quinta-feira, 11 de abril de 2013

Afunda, Robinho!


Conformado, o craque celebra: - Daqui o professor disse que eu posso render mais!...



As coisas estavam ficando realmente difíceis para o time do Santos. Refugiado em meio aos torcedores do Bolívar, eu tremia como pinto molhado nas gélidas arquibancadas do Estádio Olímpico de La Paz; sequer ousava tirar a mão do bolso para alcançar uma botellita de red label fasifiki (descolada mais cedo no Mercado Central). Contentava-me em seguir o coro da massa, “bo-bo-bo, lí-lí-lí, var-var-var: BOLÍVAR!!!”. Mas apesar do calor humano, a noite estava friíssima. E logo a chuva e o vento tratariam de trazer um pouco mais de sofrimento, tanto aos torcedores como aos jogadores.

As arquibancadas estavam todas em Azul Celeste, cor do time anfitrião, lotadas. Não que a equipe paceña o merecesse – longe disso -, mas pelo fato de Robinho estar em campo. O ano era de 2005, e a partida era disputada ainda pela fase de grupos da Libertadores. Todo esforço era válido para ver a jóia praiana em ação. Por isso encarei a epopéia de ir a campo me extasiar. O Peixe perdeu por 4 x 2, pois, além do frio e do campo encharcado (tipo charco mesmo), viu aliar-se ao adversário a Senhora Dona Altitude e um juiz amigo dos hômi. Mesmo assim, Robinho foi o destaque absoluto com impressionantes arrancadas (numa das quais saiu o segundo gol santista), deixando os bolivianos aterrorizados, além dos fantásticos dribles que, de hábito, aplicava. A torcida delirava quando lhe tiravam a bola, ainda que a patadas, mas não tirava o sorriso de satisfação do rosto com as incríveis jogadas testemunhadas.

Ao longo daquele ano, compartilhei do suplício alvinegro ante a iminente debandada do craque para a Europa. Também sentido, mesmo que em silêncio, por todo torcedor brasileiro, encantados que estávamos pelas pedaladas e estripulias do menino vicentino. O projeto “Fica, Robinho!” foi simpático, tocante, mas não o suficiente para sensibilizar o coração daquele calunga ousado e irreverente que, sabíamos – tínhamos mesmo a certeza, ora, bolas! -, representava o futuro do futebol brasileiro.

Pois não é que o seguro morreu de velho e ficamos todos com a cara no chão?

O que aconteceu de lá pra cá com esse garoto é de entristecer a alma do menos nostálgico dos aficionados pelo violento esporte bretão. No Real, virou reserva galáctico de luxo; mesmo lugar que ocupava no “quadrado mágico” do selecionado de Parreira (ou seja, nenhum). De Madrid, partiu com o peito estufado em busca de novos “desafios”, no que foi recebido como craque no City, de Manchester, onde, se fez alguma coisa, simplesmente não me lembro (e estou muito preguiçolento para pesquisar na rede). Antes de sair definitivamente, fez um curso de “Figuração Express” em sua velha conhecida Vila Famosa, servindo como coadjuvante para o brilhar inebriante dos ascendentes Ganso e Neymar. Saiu fazendo careta e forçando cara de menino, dizendo-se o velho Robinho, embora, na verdade, estivesse só ficando mais velho e cada vez menos Robinho.

Metamorfose que se confirmou naturalmente quando abarcou ao Milan, já com um inquebrantável ponto de interrogação que pairava perenemente sobre sua cabeça. “Quem é esse? É aquele outrora responsável por espalhar a esperança e transformar sal em mel?”, perguntariam, incrédulos, Milton Nascimento e Fernando Brant. Aquele, das sete pedaladas em cima do Rogério na final do Brasileirão; é esse mesmo quem está ali, esquentando o banco do tradicional San Ciro?

Pois, sim, caros senhores, é esse mesmo. O tal que foi nosso principal líder (?) na Copa passada e que, quando fez o gol contra a Holanda, ajoelhou-se e benzeu-se como se enfim houvesse dado cabo à sua divina missão nesta Terra.

Hoje, tudo o que se ouve do ex-futuro-Pelé são críticas quanto ao alisabel que ornamenta suas madeixas, e nada mais. No Brasil, seja entre especialistas, seja entre torcedores, seu nome sequer é cogitado para a próxima Copa - quando, em teoria, aos 30 anos, teria a oportunidade de desfilar o fino da bola, como fez o Rei, em 1970, ou o Galinho, em 1982. Mas, não. Preferiu seguir os passos daqueles que já se acham maduros o suficiente, dos que acham que não tem mais nada a aprender, tornando-se subproduto de sua geração narcizóide. No futuro, o sorridente Robinho será lembrado por suas pedaladas juvenis e, com alguma boa vontade, como o cara que “arrebentou” na Copa América de 2007.

É pouco... Profundamente pouco para quem já deu, um dia, o enganoso indício de que estávamos no caminho certo. Parece que Robinho andou pedalando pro lado errado.


foto: joão sassi

5 comentários:

  1. Na boa: acho que no futuro Robinho nem lembrado será. Representará, no máximo, uma referência exótica, como Denilson. Lamentável, mas verdade.

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  2. Pois é, Márcio, por demais lamentável... O Denílson vai ficar lembrado pelo lance com os turcos, e só. Já o Robinho, faça-se justiça, ainda tem aquele tal de "dois pra lá, dois pra cá", aplicado contra o Equador, no Maracanã. Não é lá muita coisa, mas foi bem bonito.

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    1. Tudo bem, lance bonito de se ver na hora. Mas - sejamos realistas - contra o Equador não dá pra ficar na história ...

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  3. Verdade,joão! Por esse lance e aquela pedalada contra o Corinthians...Realmente uma pena! Boníssimo texto, parabéns!

    Forte abraço,

    Arthur Guedes.

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  4. Valeu a presença, Arthur! No mais, resta-nos lamentar o desperdício de uma safra que prometia (Robinho, Adriano, Kaká, Ronaldinho Gaúcho, etc).

    Abração del D.T.

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